Sala de Estar

Demoraram na verdade em cerca de cinco minutos, no máximo para chegar na casa da pequena bruxa, mas ela não percebia que sua mão ainda estava literalmente sendo protegida pela dele, já que a outra era maior e mais larga. Bom... Minha casa não é lá as melhores moradias, então, me desculpe se achar que é muito simplesinha... Eu moro sozinha aqui... - meio sem graça, ela apontava para a casa uma casa da árvore que tinha perante a vizinhança. Era bem bonita, aos olhos da morena, mas aos olhos de outras pessoas, era bem infantil e estranha a casa. Mas ela gostava, isso que importa. Soltando os dedos da mão do rapaz, Violet apenas caminhou para a própria casa, entrando em um corredor pequeno que tinha que era a escada que levava-a para dentro, já chegando ao lado da cozinha e da sala de estar. E na sala de estar, havia uma mesa a parte, que seria a mesa de jantar, mas acabou sendo a mesa dos estudos dela, tanto que lá estava a tal armadura e atrás da mesa, um quadro lotado de papéis, fotos e anotações. Tudo aquilo, sobre os arcanjos, o resto das pesquisas estavam guardadas ou jogadas no acolchoado do Canto dos Pensamentos . É.. É estranho, eu sei, eu sou meio fissurada nesse assunto, mas é que eu me empaquei nele, eu gosto de estudá-lo. E bem, pelo o que eu me lembro você passou no Egito, não é? - ela dizia de forma animada enquanto tirava o pano por de cima da armadura, revelando-a. Era de ouro maciço com alguma escrita em egípcio no canto superior direito dela, mas no centro, havia um buraco, como se uma flecha tivesse atravessado aquilo. Então, tipo... Eu não entendo, eu tentei ler, traduzir e não consegui, é parecido com egípcio mas não é... E esse buraco no meio... Como? É ouro maciço e pesa quase uma tonelada! São tantas as perguntas que eu tenho.. As vezes acho que eu vou ficar louca se não encontrar a resposta. - ela comentava enquanto coçava um dos olhos antes de colocar os óculos. Erguendo um pouco a cabeça, Violet fitou algumas fotos e então, reparou em uma da 2ª Guerra Mundial a qual sua avó tinha entregado a sua mãe e de sua mãe, para ela. A polonesa então olhou bem e arregalou um pouco os olhos. Tinha um soldado lá, e ele era simplesmente idêntico a Beliel. Beliel.. Você teve algum parente na 2ª Guerra Mundial? - ela indagava assustada, fitando desesperadamente as feições do rapaz na foto e logo depois, se virando para o loiro. Eram iguais, exatamente iguais.

Ela fitou novamente a foto em preto e branco que tinha. A sua respiração começara a falhar, só em tocar o rosto na foto, ela sentia um choque elétrico percorrer-lhe a espinha, mas a bruxa então se virou para o loiro ali, e o fitou nos olhos. Ainda com a respiração trêmula, ela teve de ficar nas pontas dos pés para tocar-lhe a lateral do maxilar. Um frio na barriga a tomou e usando a pirocinese, ela apenas esquentou delicadamente as pontas de cada dedo da destra. Deslizando-os até a região do coração, ela pôde sentir a palpitação dele. Seu pai, por ser filho de detetives, aprendeu a caracterizar quando uma pessoa mentia. A morena não tinha esse talento todo do mais velho, mas ela sabia que mesmo quando confiantes em sua mentira, o coração palpitava, no caso dele, ela não conseguia sentir direito. Batia? Batia, mas não conseguia ouvir direito. Os olhos azulados dela focaram-se nos alheios. Ela não ia persistir. O achava totalmente diferente. De forma completamente delicada, ela selara o ponto do abdômen onde os lábios alcançavam sem ter de erguer o rosto ou ficar nas pontas dos pés. Por um breve momento, pensei que você fosse um arcanjo. - ela comentou, dando uma risada, com uma pitada de nervosismo que não era reconhecível. Mas eu ainda penso mesmo que você seja o que estou pensando. - ela pensou consigo mesma antes de se afastar e parar com o feitiço de pirocinese em seus próprios dedos, afim de se sentar na cadeira que tinha ali e analisar um pouco mais a armadura.

O olhar dela estava fixado no texto da armadura com o maior desejo do mundo em descobrir, mas ela não sabia, e nunca descobriria. Os orbes da bruxa se encheram de lágrimas, mas se recusou a chorar, pelo menos na frente do loiro. Como um campo de "proteção" para as lágrimas não rolarem pelo seu rosto. Eu só queria completar o trabalho dos meus pais. E poder seguir o caminho que eles seguiram. - a tremulação em sua voz era nítida, e dava-se para perceber que ela iria chorar a qualquer momento. Delicada como sempre, ela respirou fundo e fez os olhos "engolirem" as lágrimas, se sentindo um pouco tonta. Com os olhos avermelhadinhos e o nariz que aparentava escorrer internamente, graças ao som, ela fitou a face do loiro. Ainda não acredito que ele não seja um anjo. Poxa vida, ele é lindo desse jeito e... Ele é alto demais. - ela comentava consigo mesma em sua mente, e após escapar de seus devaneios, ela percebeu que as maçãs do rosto estavam coradas, assim, ela virou o rosto, tímida. Eu ainda acho que vou conseguir. Nem que eu tenha vender minha alma, hah. Mas eu vou conseguir descobrir sobre eles. - sua voz tinha um tom tão esperançoso, que podia-se dizer que Violet era realmente uma criança. A mais sonhadora de todas, por assim dizer.

O loiro então leu a frase, ou pelo menos pareceu. Com uma das mãos, a bruxa ajeitava as madeixas meio cacheadas que estavam para trás dos ombros, colocando-as para frente, sem graça, ela retirava o óculos do rosto e então, voltava a fitar o loiro, um pouco tímida antes de se levantar da cadeira. Bom.. Obrigada, e ainda vou descobrir mesmo... - e ele ainda perguntara sobre mais itens que ela tinha. Pensou um pouco, tentando se recordar dos itens mágicos que poderia obter. E logo se recordou das correntes que achara no meio de um bosque na Polônia. Bom... Já achei correntes que conseguem suportar toneladas. Mas elas estavam arrebentadas. E quando eu achei foi acho que o que? Duas noites após uma lua cheia. E eu raciocinei tudo e bem.. Só podia ser um lobisomem. Se quiser, eu te mostro. - ela comentava um pouco infantil, quase que fazendo um bico nos lábios enquanto pensava em mais algum item que tinha a ver com alguma raça sobrenatural.

Pareceu uma eternidade para a baixinha o espaço de tempo entre a sua resposta e o pedido do loiro, ainda mais graças a mente dela, que criava situações, recordava momentos e entre outras coisas. Devaneios passavam pela sua cabeça até um pequeno comentário lhe pausar o funcionamento cerebral: Ele pode ter sido alguma coisa sua em uma vida passada, já parou pra pensar, magrela? E aquilo a fez corar. Era estranho o fato dela já ser tão carinhosa com um rapaz em questão de poucos dias, mas também seria loucura pensar algo assim de Beliel. Mas ela imaginava as cenas de várias Violets em várias épocas com o mesmo Beliel, porém, nunca mais velho aparentemente, nem fisicamente. Sua respiração falhou, e o devaneio que lhe veio durou questão de segundos, e então, com um sorriso sem graça e os olhos se focando novamente nos dele, ela assentiu com a cabeça, passando pela frente do rapaz com um ar meio tímido, já que o armário de suas pesquisas estava ali. Tinha um pouco menos que a altura do rapaz, e ele estava lotado, praticamente. Papéis quase que caíram da primeira prateleira ao abrir as portas de ferro deste. A primeira prateleira era sobre bruxas e sua história, a segunda, sobre as ninfas - que tinham quase que o mesmo objetivo, dito pelas pesquisas -, a terceira, sobre sereias, harpias e najas - ainda não concluídas pesquisas - e a última, era sobre os lobisomens. As pesquisas sobre vampiros, mais as colagens de jornais dizendo sobre ataques de animais e sobre o roubo no hospital, estavam em cima de um criado mudo no quarto da bruxa. Mas na última prateleira do armário, estavam mais itens do que papéis a respeito da raça dos lobos, mas isso, no momento, não vinha ao caso. A única coisa que vinha ao caso era as correntes, que estavam fáceis de pegar. A morena se agachou e então, facilmente, agarrara as inúmeras correntes que ali havia. Soltara um grunhido ao se levantar, graças as costas que viviam doloridas e graças ao peso das correntes, logo arrastando-as do chão com toda a força que tinha. Ela então se direcionou ao tapete que tinha entre os sofás brancos e a TV, que era logo ao lado, empurrando a mesa de centro para um canto e logo jogando as correntes ali. Bom, essas correntes, pelo o que vi, são de uma marca específica. Essa marca ela produz itens para auxiliar a segurança de containers. Então, obviamente, tem de suportar toneladas de carga. Agora, é muito estranho achar isso no porão de uma casa abandonada ao lado da sua, não acha? E ver que essas correntes estavam arrebentadas. Foi aí que comecei a pesquisar. - ela explicava o início da pesquisa enquanto segurava em uma parte das correntes, a qual havia se soltado do elo que, no caso do local onde invadira, estava fixado no chão e em duas paredes.

Os olhares se encontraram novamente, e Violet não conseguiu conter uma risada nervosa, totalmente perceptível, indicando o estado da garota. Seu coração palpitava e o único desejo dela, no momento, era que aquela estranha sensação cedesse. E seu desejo fora concedido, quando o rapaz perguntara. Então qual seria a real razão para o porão de uma antiga casa ter essas correntes tão pesadas que suportam quase tudo... Só que arrebentadas? - ela perguntava antes de cruzar um outro olhar com o loiro. Cara, se continuarmos assim, nem te conto sobre como as minhas bochechas chegarem a estado de explosão. - ela brincou com ele mentalmente. Até que então, ele pediu por mais informações. Deixa eu lembrar, calma. - a bruxa o pausou e até mesmo colocou uma palma da mão estendida no ar para pensar, já que a canhota tinha o dedo indicador sobre os lábios dela como uma expressão pensativa. Uma lista passava como se fosse um sistema de computador em sua cabeça mas ela começou a misturar as coisas. Sua mão estendida coçava para usar algum poder, já que faria bons dias que não treinava, mas ela estava se controlando.
Ela se embaralhou, e isso era péssimo para uma bruxa, afinal, seus poderes só são controlados pela mente! Com um pouco de dor de cabeça, a morena, abaixou um pouco a cabeça, e esfregou os dedos nas têmporas, tentando relaxar. Assim, ela vacilou. Quando ela desceu os braços para esticá-los, flutuava em cada uma das palmas, uma bola de fogo, do tamanho de uma bola de baseball. Violet estava até então, olhando para os olhos azulados do rapaz, e só depois foi ver as bolas. Ela quase que gritou para dentro de seus pulmões, mas o que fez foi só inspirar muito ar pela boca, fechando a mão logo em seguida. Sua adrenalina subiu e ela se levantou em um pulo. Err... Eu... - ela tentava se explicar, de forma falha. E assim, correu dali, indo para a cozinha e quase que se enfiou dentro da geladeira. Você.. Você tá com fome?! Vamos comer alguma coisa, vai. To morta de fome, olha! Tem comida! - ela falava rapidamente, mais nervosa ainda.

Obs: Pode continuar a jogando pela sala, o que divide os dois é só um balcão.

Ele havia agido de forma totalmente natural, o que não era de se esperar. Violet então começou a raciocinar. Por mais que seria normal de alguém se levantar, não é tão comum alguém se manter em uma posição de ataque. Foi isso que a bruxa viu nos olhos do loiro. Estava assustada, nervosa e perdida, mas ainda assim tinha um lado mais forte dentro dela que a fazia enxergar as coisas. Esse era o lado que despertava quando raciocinava sobre seus estudos. Um sorriso se formou nos lábios dela e então ela pegou duas maçãs verdes. Uma acabou por lançar para o rapaz, esperando que este pegasse. O sorriso ainda estava feito nos lábios da garota, e ela então, depois, se aproximou de Beliel, limpando as impurezas da fruta com a manga da camiseta comprida. O que me deixou curiosa agora é que: ou você é um caçador, ou você é uma outra raça sobrenatural que sabe muito bem da minha existência. Agora o que vem ao caso é, acho que você deveria lembrar que ninfas e bruxas são protetoras do equilíbrio. Como a água e o fogo. - ela sussurrava de forma madura o suficiente para aparentar mais ou menos o que? Vinte e seis anos? Porém, quando ela comentou dos dois elementos, em uma de suas mãos, a que segurava a maçã, saíra um pouco d'água, formando uma comprida, porém pequena, correnteza que elevasse a fruta, e na outra mão, uma labareda de fogo inofensiva. - Se você fosse uma pessoa qualquer, que não soubesse da existência da minha raça, você fugiria. Mas se você me olhou como se eu fosse uma ameaça e mesmo assim não fugiu, quer dizer que já sabia. Agora a questão é: o que você é? - ela perguntava em um tom até que desafiador enquanto arqueava uma das sobrancelhas e parava de controlar a hidrocinese e a pirocinese, logo, dando uma mordida na maçã e passando pelo lado do mais alto, sorrindo.

Suas pálpebras apertaram um pouco a visão que tinha após abocanhar a maçã e se virar para o rapaz com um sorriso irônico. Mas ainda assim, os olhos meio esverdeados - ou azulados, dependendo de seu humor - estavam focados no rapaz. Você me descobriu com uma prova. Eu descubro tudo com uma prova. Então acho que ia ser injusto mais do que suficiente se você não me desse a prova de alguma coisa. Alguma arma escondida ou, caso você seja um sobrenatural também, um poder ou até mesmo armadura. - ela queria espetar aquelas palavras na confiança do rapaz. Aquilo tudo que estavam passando a fizera rir, apenas. Violet abocanhou novamente a fruta antes de ir novamente para o balcão da cozinha, o qual estava limpo, e se deitou ali, fitando o rapaz enquanto balançava as canelas de forma infantil e adorável. E rapaz, você deveria MESMO saber que nós bruxas fomos criadas para o equilíbrio da humanidade. Se você for um vampiro, eu obviamente iria te atacar. Não sei quanto as najas, não sei ainda se nós temos algo contra elas. Harpias, também não. Ninfas e lobisomens são nossos aliados e poxa.. Arcanjos foram criados para proteger-nos, como anjos da guarda. Pelo menos é o que eu li em vários livros astecas. - ela comentava de forma delicada para o loiro antes de abocanhar uma última vez a fruta e logo lançá-la direto para o lixo.

E logo então, ela percebeu que o silêncio quase comeu as palavras do rapaz. Violet olhou para baixo e lentamente olhou para o rapaz, pendendo a cabeça para o lado, percebendo que ele a encarava. O que foi? - sua voz soou baixa enquanto se virava, ficando de lado, até que então percebeu a posição que estava. A bruxa rapidamente se sentou no balcão, deixando as mãos sobre a saia, escondendo metade de sua coxa. Tá' ficando tarde.. - ela comentou enquanto suas maçãs do rosto coravam e seu olhar novamente abaixou, dessa vez, para os próprios pés. - Espero que hoje, o que você viu, não interfira na nossa amizade.. - ela comentava, ainda completamente sem graça.

Os lábios dela estremeceram depois do rapaz ter sussurrado aquilo. A voz dele ainda estava ecoando em sua mente e Violet estava tentando raciocinar ainda. Não estava mais deitada no balcão da cozinha, estava agora em frente a mesa que segurava a armadura. Não sabia se desistia logo daquilo tudo, já que não faria diferença. Por um momento ela quis chorar, mas já estava crescida para chorar por não conseguir alguma coisa. Com nojo, ela olhou para o armário atrás de si e depois olhou para as correntes que ainda estavam jogadas na sala. Com dificuldade, ela pegou as correntes e as puxou para o armário. Deixando em cima deste. O que eu faço com isso?, ela pensava consigo mesma. Uma ideia lhe veio em mente então, usaria sua pirocinese para queimar tudo aquilo, e depois, com a hidrocinese, apagaria o fogo. A bruxa correu para o quarto, onde em seu criado-mudo tinha uma pasta de arquivos sobre os vampiros. A pegou e logo voltou para a sala, jogando-a dentro do armário, no mesmo lugar que os lobisomens.
Agora sim ela tinha motivos para chorar, e não desperdiçou. Com a destra tremendo, a bruxa acabou por pôr fogo no armário por completo. Toda a sua pesquisa, toda a luta que teve para chegar aonde chegou, agora o fogo comia seus papéis com tanto vigor que parecia com um descarregamento de fardos e que as chamas estava com fome destes. Demorou em torno de alguns minutos para os papéis virarem cinzas escuras e quando isso aconteceu, Violet segurou outras lágrimas que escorreriam. Depois de ter feito com o armário, iria fazer o mesmo com a mesa que ali estava onde tinha papéis e anotações em várias partes do mural atrás da armadura. Um suspiro a ajudou com o controle das emoções e sem mais delongas, a bruxa pegou a foto que tinha o rapaz praticamente igual a Beliel e a pôs no meio da armadura e novamente, voltou a queimar as coisas, como uma boa piromaníaca - neste caso, uma piromaníaca abalada. Seus olhos estavam fechados durante mais ou menos quinze minutos, tempo suficiente para derreter o ouro da armadura e o resto das fotos, mas quando se abriram, ela caíra de joelhos. A armadura não sofreu nenhuma alteração, e a foto também não sofrera. Não... - ela negou com a destra sobre os lábios e voltou a chorar, mas desta vez, correndo em direção ao quarto e pondo-se a dormir.

Um bocejou escapou de seus lábios e Violet apenas desceu as escadas de seu quarto, indo direto para a sala. Não, não tinha limpado ainda onde queimara os arquivos, as pesquisas, nem nada. Não tocara ali também. A bruxa estava com uma faca na mão no momento em que assistia à televisão. Usando a pontinha desta, coçava a coxa levemente. Chegou a fazer um mísero corte, mas não fora nada que a fizesse chorar de dor. Estava ardendo, apenas. Exatamente aquela hora, estava começando a festa e não apostaria nada para estar certa de que Beliel iria lá e ficaria por lá. Assim como todos de Mystic Falls.